[Repertório] Os 50 textos mais importantes do teatro nacional – Parte 2

Por Juliano Bonfim

– Passeando por sites e mais sites sobre teatro eu sempre acabava caindo em listas com peças essências para atores; Nomes como Shakespeare, Samuel Beckett, Arthur Miller, Tennessee Williams, Harold Pinter, entre outros, pipocavam na tela, inclusive posso postar essa lista para todos, mas senti falta do que é nosso nessas listas.

Falar que Nelson Rodrigues, Plínio Marcos e Chico Buarque são grandes nomes do teatro brasileiro é chover no molhado, mas você já ouviu falar de nomes como o de Timochenco Wehbi ou de Artur Azevedo? Conhece as grandes mulheres da dramaturgia nacional? Já ouviu falar das peças atuais que já se tornaram ícones como “Por Elise” e “Savana Glacial”? Sabia que o Golpe Militar de 64 censurou dezenas de peças que acabaram se tornando símbolo de luta e resistência no Brasil?

Confira nessa lista a segunda parte das 50 peças mais importantes do teatro nacional, um trabalho de pesquisa de dias que não poderia ser feito sem a  ajuda de vocês.

Obrigado pelas dicas: Vinicius Cassiolato, Alex Lee, Eduardo Sabion, igor Carvalho, Christian Malheiros, Kelly Maciel, Naty Garcia, Patrick Lyan, Débora Gomes, Matheus Pereira, Anderson Tardelli, Yuri Ribeiro, Jonata Santos
Lucas Pacheco, Patrícia Holanda, Carina Ottoni, Giulia Lima, Ton Castro, Jhon Booz e Andressa Dias Maciel


Resultado de imagem para Ópera do malandro, Chico Buarque livroÓpera do Malandro – Chico Buarque – 1978
Focaliza uma terra Brasilis de malandros e seus gingados, com um linguajar típico de quem vive às margens da lei, um cafetão de nome Duran, que se passa por um grande comerciante, e sua mulher Vitória, que do nome nada herdou. Vitória era uma cafetina que, na realidade, vivia da comercialização do corpo. A sua filha.Teresinha era apaixonada por uma patente superior, Max Overseas, que vive de golpes e conchavos com o chefe de Polícia Chaves. Outras personagens são as prostitutas, apresentadas como vendedoras de uma butique, e a travesti “Geni”, que só serve para apanhar, cuspir e dar para qualquer um. A peça se passa nos anos 40, época do Casino da Urca, tendo como pano de fundo a legalidade do jogo, a prostituição e o contrabando.


Resultado de imagem para por elise grace passoPor Elise – Grace Passô – 2005
Uma Dona de Casa que narra histórias de seus vizinhos; um Cão que late palavras; um Lixeiro em busca de seu pai que há anos não vê; uma Mulher perdida; um Funcionário que trabalha como recolhedor de cães doentes, protegido em um uniforme que faz com que ele não sinta nem quando o espancam, nem quando o amam. Por Elise é a primeira criação do Espanca! e deu base para a origem do grupo. Possui a simplicidade do espaço vazio e a potência da semente de uma árvore frutífera. É composta por situações que primam pela teatralidade nas revelações constantes das relações humanas, pois é no encontro entre esses personagens que se revela o universo humano de cada um. Como uma fábula sobre o comportamento do homem contemporâneo: as contradições dos sentimentos, as formas como vive medindo o quanto se envolve com as coisas, o quanto se protege delas. E nessa busca, o amor espanca os homens, docemente. Por Elise estreou dia 22 de março de 2005 no teatro José Maria Santos, em Curitiba, Paraná. O espetáculo já foi visto por aproximadamente 34.000 pessoas em 185 sessões realizadas em 50 cidades de todas as regiões do país. Além de apresentações em Berlim, na Alemanha, compôs a programação de 27 festivais nacionais e internacionais do Brasil. Fez temporadas em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Venceu os Prêmios APCA e Shell-SP de melhor dramaturgia. O Espanca! ainda foi indicado na categoria especial do Shell, pela criação e concepção do espetáculo. A peça recebeu ainda o prêmio SESC-SATED/MG de melhor espetáculo e texto.


Resultado de imagem para Liberdade, Liberdade peçaLiberdade, liberdade – Millôr Fernandes e Flávio Rangel – 1965
Estreou no palco no mesmo ano. É um marco da história teatral do Brasil por ter sido o texto de maior sucesso do chamado teatro de protesto, conjunto de peças, na maior parte, musicais, que criticavam a repressão imposta pelo golpe militar de 1964.
Liberdade, Liberdade recorre a textos de vários autores sobre o tema que dá a título a peça, entremeados por números musicias. Quatro atores interpretam 57 personagens e se revezam na interpretação de textos de Sócrates, Marco Antônio, Platão, Abraham Lincoln, Martin Luther King, Castro Alves, Anne Frank, Danton, Winston Churchill, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Geraldo Vandré, Jesus Cristo, William Shakespeare, Moreira da Silva e Carlos Drummond de Andrade, entre outros. E também cantam 30 canções ligadas ao assunto. O tom varia do dramático ao cômico, do discurso político mais explícito ao lirismo da poesia.

A versão original estreou num teatro improvisado no Rio de Janeiro, em 1965, no dia 21 de abril, Dia de Tiradentes, o Mártir da Independência. Com direção de Flávio Rangel e elenco era formado por Paulo Autran, Tereza Rachel, Nara Leão e Oduvaldo Vianna Filho, numa produção conjunta do Teatro Opinião e do Teatro de Arena de São Paulo. A repercussão nacional e internacional foi imediata. Até o New York Times registrou o sucesso do mais ambicioso dos espetáculos de protesto. O sucesso da peça repercute nos mais altos escalões governamentais. O presidente Castello Branco, em nota de 2 de junho de 1965, dirigida a seu sucessor Arthur da Costa e Silva, afirma que as ameaças (da peça) são de aterrorizar a liberdade de opinião. Em 1966, a Censura Federal proíbe a apresentação de Liberdade, liberdade em todo o território nacional,  que só voltou a ser montada em 2005, com direção de Cibele Forjaz.


Resultado de imagem para o pagador de promessas peçaO Pagador de Promessas – Dias Gomes – 1960
A peça é dividida em três atos, sendo que os dois primeiros ainda são subdivididos em dois quadros cada um. A história se passa na cidade de Salvador, já em processo de modernização. O personagem principal, o sertanejo Zé-do-Burro, deseja levar uma grande cruz até o interior da Igreja de Santa Bárbara para pagar uma promessa e, ao longo do trajeto, sofre com as mentiras, com a corrupção e com a ganância da sociedade.
Encenada pela primeira vez em São Paulo pelo TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) no ano de 1960. A peça inspirou um filme homônimo, de 1962, que venceu o prêmio Palma de Ouro no Festival de Cannes.


Resultado de imagem para "Quem casa quer casa martinsQuem casa quer casa – Martins Pena – 1845
A peça Quem Casa Quer Casa foi escrita em 1845 por Martins Pena. O enredo se desenrola na cidade do Rio de Janeiro. Tem apenas um ato e os personagens eram: Nicolau, marido de Fabiana, mãe de Olaia e Sabino. Anselmo , pai de Eduardo, irmão de Paulina, dois meninos e um homem. É uma comédia que mostra o dia a dia de uma família onde os genros com os filhos moram na mesma casa com os sogros. As reclamações e a luta pelo poder levavam a platéia ao delírio.


Resultado de imagem para abajur lilas peçaO Abajur Lilás – Plínio Marcos – 1969
Escrita em plena ditadura militar, a peça só foi liberada pela Censura onze anos depois, em 1980. Tendo a montagem sido interrompida e retomada um par de vezes até sua liberação, O Abajur Lilás mobilizou toda a classe teatral, tornando-se símbolo de persistência.
A ação tem lugar no prostíbulo de Giro, um homossexual desapiedado que conta com Osvaldo, um segurança violento, para fazer valer sua autoridade ali. Em estado de extrema degradação humana, três prostitutas tentam sobreviver. Dilma se apega aos valores e ao filho que precisa criar; a rebelde e inconsequente Célia só deseja tomar o prostíbulo e o poder para si; Leninha é novata no lugar, individualista e parece não se abalar com os conflitos alheios. Tudo se complica quando um abajur aparece quebrado no dormitório e nenhuma das três assume a culpa. Sem disfarces nem qualquer piedade, Plínio Marcos retrata as camadas mais marginalizadas da sociedade, seres sem perspectiva outra que sobreviver um dia após o outro de uma vida ingrata. As três prostitutas, o cafetão e o segurança fazem o que podem para defender o que é seu em um entorno marcado pelas relações de poder, onde a justiça parece não existir e os interesses individuais ditam as leis.


Resultado de imagem para cacilda teatro oficinaCacilda – José Celso Martinez Corrêa – 1990
A primeira peça da tetralogia que conta a vida do maior mito do Teatro no Brasil, a mãe do teatro moderno brasileiro, a atriz paulista Cacilda Becker. A tragicomediaorgya que foi escrita com a bolsa de dramaturgia Oswald de Andrade da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo em 1990, ganhou o prêmio de melhor peça na ocasião. Em 1998 ganhou o prêmio estímulo Flávio Rangel para montagem, também da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e estreou em outubro de 1998, foi considerada a peça do ano pela crítica especializada. Sucesso absoluto de crítica e de público ficou 8 meses em cartaz no Teatro Oficina sendo apresentada no festival de teatro de Recife em novembro de 2000.
Na temporada de São Paulo a peça abocanhou vários prêmios, no prêmio Shell recebeu melhor autor, diretor, atriz e foi indicada para melhor iluminação, música, cenário e figurino; do APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) recebeu melhor autor, diretor, atriz e iluminação; do Mambembe recebeu melhor atriz coadjuvante e melhor espetáculo e na APETESP melhor atriz coadjuvante e espetáculo.


Roque Santeiro ou O Berço do Herói – Dias Gomes – 1963
A peça “O Berço do Herói” foi escrita em 1963 e deveria ter sido encenada em 65, mas foi censurada pelo governo militar. Em 1975 Dias Gomes resolveu adaptar a obra para a televisão. Mas, novamente, a história foi proibida. Dez anos depois, em 1985, já com o país vivendo o processo de redemocratização, a novela foi levada ao ar. O sucesso foi estrandoso e imediato. Tal foi o êxito, nacional e internacional da novela, que uma nova edição da peça foi retrabalhada por Dias Gomes. O autor resolveu enriquecê-la com cenas que lhe foram sugeridas pela novela. Assim, Dias Gomes dá um presente a seus leitores: a oportunidade de, novamente, rir, pensar e se emocionar com as loucuras da viúva Porcina, a esperteza de Sinhozinho Malta e o “progresso” de Asa Branca.


A Casa Amarela – Gero Camilo – 2013
O texto tem o intuito de ser uma reflexão sobre o sonho de Vincent van Gogh de fundar uma comunidade de artistas onde todos pudessem pintar, trocar ideias e informações, compartilhar técnicas e desejos, e também dividir despesas. Um lugar onde diferentes artistas vivessem. Criadores que, juntos, seriam capazes de inaugurar um momento de renovação do olhar do homem. Um sonho revolucionário.


Resultado de imagem para roda viva chico buarque textoRoda viva – Chico Buarque – 1967
Estreou no Rio de Janeiro no início de 1968, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa. Foi a primeira incursão de Chico Buarque na área da dramaturgia.
Na estreia, fizeram parte do elenco Marieta Severo, Heleno Prestes e Antônio Pedro, nos papéis principais, e a temporada foi considerada um sucesso. Durante a segunda temporada, com Marília Pêra, André Valli e Rodrigo Santiago substituindo o elenco original, a obra virou um símbolo da resistência contra a ditadura militar. Um grupo de cerca de cem pessoas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), invadiu o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, e espancou os artistas e depredou o cenário[1]. Segundo a Revista O Cruzeiro, de 9 de novembro de 1968, participaram do ataque ao elenco do espetáculo Roda Viva, João Marcos Monteiro Flaquer (comandou o ataque), Francisco José Aguirre Menin, Sílvio de Salvo Venosa, Cássio Scatena, Henri Penchas, Antônio Salvador Sucar, Flávio Bernardo Caviglia, Raul Careca, Souvenir Assumpção Sobrinho, Paulo Roberto Chaves de Lara, Newton Camargo Rosa e José Augusto Bauer. Após o revés na capital paulista, o espetáculo voltou a ser encenado, desta vez em Porto Alegre. No entanto, os atores da peça voltaram a ser vítimas da violência e intransigência do CCC e, após este segundo incidente, o Roda Viva deixou de ser encenada. Mas esta é considerada uma das mais importantes peças de teatro brasileiras já produzidas nos anos 60.
O espetáculo conta a história de um ídolo da canção que decide mudar de nome para agradar ao público, em um contexto de uma indústria cultural e televisiva nascente no Brasil dos anos 60. O personagem é a representação de uma figura manipulada – pela indústria fonográfica e/ou imprensa – que promove uma reflexão sobre a cerca da sociedade de consumo.


Resultado de imagem para timochenco wehbi palhaçosPalhaços – Timochenco Wehbi – 1971
De um lado, o Palhaço Careta, artista, excluído, esmagado, enganado, consciente de tudo. E do outro, o Visitante, um homem comum, que sofre o mesmo processo, mas se acomoda, se conforma e não quer encarar a realidade. O espetáculo, de uma forma geral, revela o confronto destas duas situações humanas: o homem aspirando ser bem sucedido em seu trabalho de vendedor de sapatos e o artista, cujos valores encaminham-se contra a vida sem sentido. O Visitante vai ao Circo em busca de fantasia e fuga de seus problemas cotidianos, mas, ao entrar no camarim do Palhaço, defronta-se com a outra face no espelho, conhecendo uma nova realidade. A técnica da inversão dos papéis, característica do psicodrama, é utilizada com eficiência. Num determinado momento, o Palhaço assume a condição do Visitante e este a do Palhaço. O resultado é a possibilidade que o Palhaço dá ao Visitante de, ao mesmo tempo, fazer uma auto-análise e saber como é a real vida de um artista.


Resultado de imagem para a morta oswald de andradeA Morta – Oswald de Andrade – 1973
A Morta é a última e a mais densamente poética das peças teatrais de Oswald de Andrade. Nela a ação dramática foi reduzida ao mínimo e se apresenta sobretudo através de vozes e devaneios de figuras fantasmagóricas de um mundo em ruínas. O teatro se presta ao escritor militante e comunista dos anos 30 para forjar uma imagem complexa da corrupção da vida e da agonia burguesa. Ao contrário de “O Rei da Vela”, que revolucionou a história do teatro moderno no Brasil por ocasião da montagem do Teatro Oficina, A Morta continua à espera de uma imaginação cênica capaz de desvendar as sugestões do seu lirismo, conquistando sua beleza forte e hermética definitivamente para o palco.


Resultado de imagem para o verdugo hilda hilstO Verdugo – Hilda Hilst – 1969
Esta é uma das peças mais premiadas e encenadas do Teatro de Hilda Hilst. A peça se inicia com uma família sentada à mesa, em que as rubricas nos dão detalhes de suma importância para compor a cena: a casa “é modesta, mas decente”, onde o pai é o “verdugo personagem que sempre matara sem nenhum problema ou remorso”. Em determinado momento, este pai decide não matar o próximo homem, achando-o diferente dos demais. O verdugo tenta reverter a situação se tornando um grande revolucionário contra o processo censor e ditado por regras. É uma luta clara e objetiva pelos direitos de cada um, onde o verdugo não está mais disposto a obedecer a lei imposta e autoritária, não compactuando mais com o sistema.


Resultado de imagem para A Capital Federal Artur AzevedoA Capital Federal – Artur Azevedo – 1897
Sempre envolvido em questões nacionais, seja no teatro, como no jornalismo e na vida pública, Azevedo registra com “A Capital Federal” sua visão crítica do crescimento urbano e suas contradições através de personagens estigmatizados. E apoiado nesses estereótipos de alguns segmentos sociais, que seguem uma seqüência de quadros que representam uma panorâmica da cidade, o texto mostra eficiência no seu objetivo de apresentar com humor os costumes urbanos do final do século XIX. Seguindo regras de conduta moral, que sublinha a visão do autor da realidade, como também na busca do efeito histriônico, que subverte essa mesma visão, “A Capital Federal”, enquanto literatura teatral, propõe leituras que, em princípio, parecem contraditórias. Se concessões são feitas à moralidade vigente, como a punição das personagens que violam as regras do convívio social e com um desfecho que apela para o sentimentalismo, por outro lado o texto explora uma renovação da linguagem teatral, que combina os modelos da cena burlesca com uma composição das personagens, que enquanto tipos, supõe-se baseados na realidade.


Resultado de imagem para Trair e Coçar É só Começar peça deniseTrair e coçar é só começar – Marcos Caruso – 1986
É considerada um dos maiores sucessos de público no Brasil, sendo encenada desde 1986, é a peça teatral há mais tempo em cartaz em todos os tempos e acumula números impressionantes: Mais de 6 milhões de espectadores, mais de 9 mil apresentações, 4 vezes no Guiness Book, Prêmio Quality Cultural e homenagem pela Assembleia Legislativa de São Paulo. A peça gira em torno de meras hipóteses de adultérios, geradas por equívocos e confusões provocadas por uma empregada, que se aproveita da desconfiança geral entre os casais do enredo para subornar seus patrões e amigos. A estória conta com três casais, um padre e um vendedor de jóias que se torna, sem querer, o pivô de uma série de suspeitas de traição. É uma comédia de costumes com todas as confusões do gênero. Tem como fio condutor a empregada Olímpia que complica e descomplica a ação e uma série de personagens à beira de um ataque de nervos.


Resultado de imagem para Savana Glacial peçaSavana Glacial – Jô Bilac – 2010
Ganhadora do Prêmio Shell e indicada ao APTR por melhor dramaturgia, a montagem foi eleita uma das dez melhores peças de 2010, pelo jornal O Globo e participou dos principais festivais nacionais e internacionais do país, obtendo sucesso de público e crítica por onde se apresentou. Neste espetáculo, realidade e ficção são tensionadas num jogo cênico construído em processo colaborativo com o autor Jô Bilac, atualmente considerado um dos mais promissores autores da nova safra de dramaturgos brasileiros. As camadas temporais e espaciais deste espetáculo se sobrepõem. São desenhadas e arquitetadas pelos corpos dos atores, apresentando uma leitura particular sobre a memória, utilizando mínimos recursos e apoiando-se na fisicalidade para extrair o máximo das palavras.


Resultado de imagem para fauzi arap pano de bocaPano de Boca – Fauzi Arap – 1975
Traz a única discussão oportuna nos tempos atuais sobre a criação, o teatro e a espiritualidade em um tempo onde a esquizofrenia é gerada pela velocidade, atirando o homem no abismo da disputa pelo sucesso, do isolamento, da poluição sonora e da intolerância.
O texto de “Pano de Boca” é estruturado em três planos. No primeiro, dois personagens indefinidos, palhaços inacabados, reclamam vida dentro da cabeça de um autor em crise. No segundo, uma atriz dialoga com alguém que não se vê sobre os acontecimentos que motivaram a desintegração de um grupo. E, no terceiro, o próprio grupo tenta reabrir o teatro abandonado em uma reunião convocada por alguém não identificado. A peça se funde em uma discussão sobre a criação, a exclusão e o sagrado no teatro. Os atores transitam por linguagens diferentes, como o realismo, o circo e um quase surrealismo, diferenciando os três planos aparentemente distintos do texto, que fluem para um caminho único.


Resultado de imagem para GERAÇÃO TRIANONGeração Trianon – Ana Maria Nunes – 1988
A peça diz respeito ao majestoso teatro Trianon do Rio de Janeiro, onde passaram-se grandes nomes da época, entre autores, artistas, empresários e críticos, que discutiam e resolviam, ali, os rumos da classe teatral. O espetáculo começa com a Companhia em cartaz, apresentando “A Ceia dos Cardeais”, mas com um eterno problema, a ausência de público. Devido a este fato, a companhia resolve montar outro espetáculo, mostrando assim o ensaio e todas as etapas para uma montagem juntamente com as figuras dominantes no teatro brasileiro da época até a execução do espetáculo. Neste texto podemos ver figuras marcantes que já foram extintas e outras que existem até hoje, como: O Ponto, Esse menino, Empresário, Ensaiador, Mocinha, entre outros.


Resultado de imagem para Santidade – José VicenteSantidade – José Vicente – 1967
Sobre um ex-seminarista, que, vivendo em São Paulo às custas do amante, recebe a visita do irmão que está para ordenar-se padre, colocando em xeque sua vocação religiosa. A montagem que teria direção original de Fauzi Arap e produção da atriz Tônia Carrero, é censurada pelo marechal Costa e Silva em 1968, declarando em rede televisiva que aquele era “o exemplo de espetáculo que jamais seria encenado no país.”


Resultado de imagem para Bailei na Curva- Júlio conteBailei na Curva – Júlio Conte – 1983
A peça mostra a trajetória de sete crianças, vizinhas da mesma rua na cidade de Porto Alegre, durante três décadas. Tem como pano de fundo os fatos políticos a partir do golpe militar de abril de 1964 até o movimento das Diretas Já, em 1984.
É uma das peças de maior sucesso do teatro gaúcho, baseada em improvisações dos atores Flávio Bicca, Márcia do Canto, Lúcia Serpa, Hermes Mancilha, Regina Goulart e Cláudia Accurso.

Do gênero comédia dramática, a peça foi escrita e encenada pela primeira vez em 1983, no Theatro São Pedro, com grande aceitação do público e da crítica. Depois disso, teve diversas montagens. A peça conta com 48 personagens, interpretados por oito atores, quatro homens e quatro mulheres.


Resultado de imagem para A Invasão, de Dias GomesA Invasão – Dias Gomes – 1960
Enfoca o proletariado urbano como massa onde não é possível a emergência do protagonismo ou a unidade de ação. Na época, sua fonte de inspiração foram os constantes desabamentos em morros cariocas durante os temporais de verão. Texto dos mais polêmicos das obras de Dias Gomes, A Invasão estreou em 1962, sendo proibido pelo AI-5, seis anos depois. É um drama intenso e amargo. O autor investiga causas e conseqüências dos nossos problemas sociais numa linguagem despojada e contundente. Aponta soluções drásticas num país onde impera a desigualdade social e vive de politicagem. A peça é uma espécie de crônica ao Brasil depois de 1964. Dias Gomes quer alertar o povo da necessidade de ser independente.

A obra foi baseada em um fato real: no final dos anos 50, um edifício em construção próximo ao Estádio do Maracanã no Rio de Janeiro foi invadido e ficou sendo conhecido como Favela do Esqueleto. Hoje a favela não existe mais, no edifício funcionam alguns cursos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Na obra, Dias Gomes aborda o problema dos sem teto nos centros urbanos. Enfoca o proletariado urbano como massa onde não é possível a emergência do protagonismo ou a unidade de ação. A peça narra uma dessas invasões que se repetem até os dias de hoje.


Resultado de imagem para De braços abertos - Maria Adelaide AmaralDe Braços Abertos – Maria Adelaide Amaral – 1984
A peça teve como intérpretes Irene Ravache e Juca de Oliveira. Tem uma trama centrada na relação entre o casal, seja no passado da relação vivida, seja no presente do reencontro depois de cinco anos. Recebeu os principais prêmios em 1984: Molière (atriz e autora); Mambembe (atriz, autora e produção); APETESP (autora, diretor, espetáculo, produção executiva e trilha sonora).
A peça retrata o romance extraconjugal do Sérgio, jornalista e profissionalmente frustrado, e Luísa, jornalista e rica. Ambos casados, se conhecem no ambiente de trabalho. Numa relação bastante conturbada, o casal de amantes travam um verdadeira disputa. As armas do Sérgio nesta disputa são sua ironia e seu sarcasmo. Luísa, com a convivência, passa a adotar comportamento similar. Há momentos de carinho, mas grande parte do tempo em que estão juntos é orientada por desentendimento e enfrentamentos. Cinco anos se passam, e eles se reencontram. A partir deste ponto a trama se desenvolve em torno da relação.


Resultado de imagem para fabrica de chocolate mario prataFábrica de Chocolate – Mário Prata – 1979 
Fábrica de Chocolate é um desafio para todos. É um desafio porque nos obriga a encarar frontalmente um tema que até há bem pouco tempo era tabu em letra de forma e se falava apenas a meia voz, olhando em volta pelo canto do olho: a tortura. Um fato oficialmente desmentido e que ironicamente às vezes se comprovava, praticado por aqueles que o negaram, naqueles que afirmavam a sua existência. É um desafio sob o ponto de vista da dramaturgia, porque o autor, recusando a emoção que poderia criar a partir da condição da vítima — emoção amplamente justificada — optou por aprofundar a sua perplexidade, buscando entender os valores e a mecânica daqueles que exercem essa função degradante. Quando um homem se avilta, aviltando um outro homem, todos nós somos esses dois homens. E para recusarmos essas duas faces, para cunharmos uma nova moeda, Mario Prata procurou compreender e mostrar o lado mais infamante. O lado dos torturadores. “O torturador é um resultado, não um ponto de partida.”


Resultado de imagem para Fala baixo senão eu gritoFala Baixo Senão eu Grito – Leilah Assumpção – 1969
Recebeu o prêmio Molière e o prêmio da APCT – Associação Paulista de Críticos Teatrais, atual Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). A direção foi de Clóvis Bueno. A atriz Marília Pêra fez o papel de Mariazinha, uma solteirona virgem que vive em um pensionato de freiras. Paulo Villaça fez o ladrão que, numa certa noite, pula a janela do quarto de Mariazinha com a intenção de roubar. Na conversa entre os dois, que dura a noite toda, a solteirona revela ao público e si mesma suas frustrações


Resultado de imagem para morte e vida severina virou livro Morte e Vida Severina – João Cabral de Melo Neto – 1955
Foi escrito por encomenda de Maria Clara Machado, então diretora do grupo O Tablado, que não pôde levar ao palco a peça. Publicado inicialmente no livro Duas Águas (1956), o texto foi finalmente montado pelo grupo do TUCA (Teatro da Universidade Católica de São Paulo), dirigido por Roberto Freire e Silnei Siqueira, com música de Chico Buarque de Holanda, e obteve sucesso mundial numa turnê em 1966. A partir daquele ano, passou a integrar o volume Poemas em Voz Alta, que reúne a parcela mais comunicativa da obra do “poeta engenheiro”.
A temática está centrada na trajetória de Severino, um retirante nordestino, que abandona o sertão rumo ao litoral em busca de sobrevivência. O autor deixa claro que não fala de um só Severino, mas de um grande grupo: os retirantes nordestinos, que têm todos a mesma sina, a morte e a vida severina: “Somos muitos Severinos, iguais em tudo na vida”. No decorrer do poema, Severino se põe a contar as durezas enfrentadas por essa gente: as jornadas para fugir da seca onde não nasce nem planta brava, em busca de terra que lhe dê o que comer.


CONFIRA A PRIMEIRA PARTE AQUI

4 comentários

  1. Bom dia. Parabéns pela pesquisa. Não conhecia site. Por gentileza seria possível me enviar uma síntese/resumo do Teatro Brasileiro de Anchieta até os dias de hoje? Faço um trabalho social e educacional com crianças, adolescentes, adultos e grupo especial da terceira idade. Abraços

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