[Quarta Parede] A Lei do mais Fraco

O futuro correu pelas minhas mãos e eu o rejeitei. Acreditaram no meu potencial, mas eu… não aceitei. E quando me ofereceram a primeira droga, ah, essa eu aceitei. Um menino abandonado, cuja arte seria sua única salvação… ela me salvou até o ponto em que eu, ingratamente, preferi outras soluções e foi assim que tudo acabou.

No palco não havia dor, mágoa, lembranças dos espancamentos que sofri. Só havia a imensidão de uma personagem. Você precisa mergulhar de cabeça para poder entender o que é atuar! Eu entendi e aplausos eram consequências. Eu, uma criança aplaudida! Vi pessoas com os olhos marejados de lágrimas pela emoção de um bom texto, de uma boa direção e de uma boa atuação. Ao fecharem as cortinas, o pesadelo recomeça! Alguns atores do elenco bebem, fumam juntos e organizam festas proibidas… nunca me envolveram nisso. Eu era uma criança e curioso fiquei. Até que experimentei! Primeiro cigarro, depois a maconha até que chegou à cocaína… eu tinha somente 15 anos quando cheguei no fundo do poço.

Meu trabalho no teatro não mudou no início. Porém, quando o vício tomou conta, ficou visível no palco. Não queria estar lá, eu queria estar fumando, sentindo o prazer daquela droga nas minhas veias, que entorpeciam meu corpo e me faziam esquecer tudo… até mesmo de minha profissão. Minha mãe, depois de muitos anos de abandono quer me levar embora. Eu vou. Tenho 16 anos, todos já sabiam da minha doença. Menos a minha primeira professora. Cintia…ela me incentivou tanto… Ela só queria que a arte me curasse! Que decepção! O diretor que me levou para ter um trabalho profissional! Alexandre Arantes, grande mestre… Ele não era um viciado, nunca se envolveu com nada. O elenco… Que elenco! Como não vi que alguns atores ficavam na sua, preocupados somente com o trabalho, longe das obscuridades da arte? Nisso ninguém cuidou de mim.

O teatro é uma delícia, mas se você não tem uma base familiar, qualquer base que seja… o sujeito tá morto! Na arte existem pessoas boas e caminhos bons, mas existem as tentações e alguns profissionais tendem a ir para o lado ruim, esse lado que tanto desvaloriza uma das profissões mais importantes para o mundo. Eu fui embora e me voltei para as drogas. Morri de overdose em frente à minha primeira escola de teatro. Pedi socorro para a minha linda professora. Só queria olhar os seus imensos olhos azuis. Mas já era tarde. A arte não podia mais me salvar.

Por Luana Manso
Revisado por Zilma Barros

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