[Atuação] Para não cair na caricatura

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O preparador de atores Sérgio Penna já participou da produção de algumas cinebiografias como “Lula: Filho do Brasil”, “Bruna Surfistinha”, “Heleno”, “Simonal”, “Che”, entre outros trabalhos baseados em personagens reais. Para ele, quando um ator recebe o convite para fazer uma cinebiografia, é preciso ter em mente que, num primeiro momento, o que tem em mãos é um roteiro. “Mesmo sendo baseada em fatos reais, a cinebiografia não é um documentário. Ela geralmente é escrita num determinado recorte da vida da pessoa, criando-se um roteiro”, fala Penna. “A partir daí, constrói-se o personagem, com suas questões internas, seus conflitos e toda a trajetória dramática”, complementa.

Johnny Araújo, diretor de “Legalize Já: A Amizade Nunca Morre”, concorda. “É a vida dessas pessoas que está sendo retratada, mas a história que conduz o filme vem em primeiro lugar”, diz Araújo, que afirma ter tido muita liberdade para contar a história da formação da banda Planet Hemp e a amizade entre Marcelo D2 e Skunk, que é o que conduz a trama: “O caminho escolhido foi dar a liberdade aos atores e ao roteirista para interpretar a vida real em função da narrativa do filme”.

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Depois dessa primeira construção, em função do roteiro, entra o trabalho de pesquisa para enriquecer a estrutura do personagem. “Tentamos reviver os passos dessa pessoa, entender a época retratada, a cultura, os marcos da vida dela e os desdobramentos de suas escolhas”, diz Penna. Apesar desses princípios, ele diz que não há um método para a preparação de um elenco: “O olhar do preparador tem de estar atento ao diretor, ao elenco e à dramaturgia”.

Para que Deborah Secco pudesse viver Raquel Pacheco em “Bruna Surfistinha”, Penna a acompanhou em muitas entrevistas a garotas de programas em boates e, depois disso, a atriz teve uma conversa a sós com a retratada. “Deborah saiu muito mexida dessa conversa, que foi muitíssimo importante para a construção da personagem”, fala o preparador. Segundo ele, Raquel deu muita liberdade para Deborah, pois ela sabia que a Bruna Surfistinha do cinema teria de ser mais dentro do arquétipo da garota de programa. “Raquel disse para Deborah, após ver o filme pronto, que se reconhecia na atriz”, garante.

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Quando o retratado é uma figura muito conhecida do público, a história é diferente, e a preparação tem de ir além e com cautela, para não cair em estereótipos. “Quando a personagem já está no imaginário, é preciso oferecer ao público algo mais”, afirma Penna. “No caso do Lula, vimos os discursos, analisamos o comportamento, fizemos um estudo bastante minucioso, mas não bastava. Fizemos um estudo sociológico, antropológico, político, social e, junto disso, estudamos o jeito de falar, de se comportar dele, por meio de documentários”. Penna conta que, quando o diretor Fábio Barreto levou o filme para o ex-presidente assistir, ele ficou muito emocionado.

Pesquisa de voz consiste em contextualizar, não em imitar

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O trio principal do filme “Minha Fama de Mau” já tem bastante experiência em canto, e a preparação vocal não se estendeu muito. Sob orientação de Felipe Habib, Chay Suede, Gabriel Leone e Malu Rodrigues tiveram um mês para treinar suas vozes, sem contar os ensaios das cenas musicais. Como o som da Jovem Guarda, mais leve, essa preparação foi bem descontraída, amparada na contextualização da época musical, do jeito de cantar desses artistas.

“Esses trabalhos têm algumas etapas”, explica Habib. “Primeiro, temos de encontrar o canto do ator dentro da estética musical da época e, dentro disso, a verdade do ator”, diz. Já as pesquisas dos trejeitos, do estilo, dos tons do cantor que o ator quer representar vêm depois desse primeiro trabalho de identificação vocal. “Se não tiver isso, vira caricatura”, alerta Habib, que trabalhou intensamente com Andréia Horta para a minissérie “Elis: Viver é Melhor que Sonhar”.

Em “Minha Fama de Mau”, a voz de Chay Suede – que ficou famoso ao participar do reality musical “Ídolos” e da novela “Rebelde”, da RecordTV – é bem marcante, mas quantos cantores já não gravaram as composições de Erasmo ao longo dos anos? No imaginário popular, todas essas vozes se fundem. Para Gabriel Leone, que vive Roberto Carlos, essa missão de cantar as músicas do Rei é uma grande responsabilidade. “Quis que eles cantassem sendo eles, pois achei que seria mais verdadeiro”, fala Lui Farias, diretor do filme.

Para a preparadora de voz Rose Gonçalves, seu trabalho consiste em dar consciência ao ator de que não é uma boca que fala, e sim um corpo, com atitudes e gestos que têm tudo a ver com a história de vida daquela pessoa que está sendo estudada. “Descobrindo esse corpo, encontraremos o tom de voz dessa pessoa, e esse é o meu trabalho”, fala Rose, que trabalhou com Renato Góes em “Legalize Já: A Amizade Nunca Morre”.

“Quando se encontra um ator como o Renato Góes, que curte o trabalho de pesquisa, que se interessa integralmente pela vida do personagem, aí o profissional que estiver por perto se delicia”, elogia Rose, que trabalhou “feliz” com o ator por dois meses, não só no treinamento do canto, mas também do sotaque. “O Renato é de Recife, e o personagem é carioca. Então, estudávamos todos os comportamentos corporais, da fisionomia aos pés, do Marcelo cantando e, principalmente, falando, pois o tom de voz ganha do sotaque”. Rose afirma que a dedicação do ator foi tanta que ela só ficou por perto para aplaudir o entusiasmo dele. “Isso muito me comove!”, fala.

FONTE

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