O diretor teatral tem uma missão extremamente complicada. Não existe glamour, não existe o palco para ele, e sim para os atores que dependem exclusivamente da competência deste ofício para se sair bem no espetáculo, se desenvolver em cena e entender o que o dramaturgo (que às vezes pode ser o próprio diretor), quis dizer em cada frase do texto. No decorrer de um curso de teatro, ou no trabalho dentro de alguma companhia, surge o desejo em alguns de dirigir peças. Dificilmente encontraremos alguém que diga: “Ah, meu sonho é ser diretor” antes de querer ser ator. O diretor de teatro carrega uma responsabilidade muito grande, pois é o chefe que conduz o espetáculo para o melhor caminho. E tem que lidar com a vaidade de alguns atores e suas loucuras, exigências, falta de respeito e ego exacerbado, que prejudicam o processo criativo de uma direção.
Rubens, ator desde criança já teve muitos problemas com diretores, mas no caso dele, não era devido ao seu comportamento. Muitos com quem trabalhou não eram firmes o suficiente e tinham grande dificuldade em passar aos atores o que deveria ser executado em determinadas cenas. Por sorte, Rubens também trabalhou com profissionais competentes, mas sempre pensou consigo mesmo: “Como é difícil isso, jamais vou dirigir!”. Pois bem, no teatro, ainda mais aquele que não é amparado por leis de incentivo, ou não tem patrocínio garantido por que o ator, ou até mesmo o diretor, não são famosos na TV ou no cinema, nos obrigam a rever os nossos conceitos… E, da necessidade, nasce um diretor!
Rubens ia ajudar um amigo na parte técnica de uma determinada peça que estava dirigindo. Um espetáculo de dramaturgia inédita, chamado “Afinal, de quem é a razão?”. Uma comédia a respeito de duas mulheres, a amante e esposa que discutem a respeito de suas sinas e escolhas. Acontece que o diretor saiu… Um problema pessoal o afastou da produção. E agora?
– Dirige você, Rubens! – Disse Núbia Soares, a atriz que interpreta a amante.
– Sempre esteve em todos os ensaios! Sabe de tudo, não queremos desistir da peça! – Disse Anúsia Fagundes, a atriz que interpreta a esposa.
Rubens ficou apavorado com esta possibilidade. Mas elas tinham razão, ele conhecia a peça e não era justo interromper o processo. Ambas eram talentosas demais e a dramaturgia valia a pena. Respirou fundo e aceitou! Porém, não é fácil dirigir Núbia e Anúsia. As duas, extremamente vaidosas, cientes de seu potencial, queriam “brilhar” uma mais do que a outra em cena. Além disso, havia uma rixa real entre elas. Por qual motivo? Puro ego, bobagens que nem valem a pena comentar… enquanto foi assistente técnico, Rubens não tinha notado o quanto aquelas duas profissionais, porém com comportamento amador, eram complicadas de lidar…
Em certo ensaio, um figurino virou motivo de discórdia, pois encontram no teatro um belo vestido vermelho, que ambas queriam para as suas personagens. Mas somente uma poderia usá-lo, e, por isso as duas se engalfinharam no camarim. Rolaram no chão, se agrediram verbal e fisicamente! Quando Rubens chegou até pensou ser o ensaio de uma cena, mas quando viu que era real, simplesmente surtou!
– Chega! Vaidade tem limite e eu sou o diretor! E caso continuem se comportando desta forma, não terei problema algum em tirá-las da produção pois isso é teatro, ARTE, e não uma batalha de quem deve aparecer mais!
Nasce neste momento o diretor, aquele que viu o caos e impôs a ordem de forma justa e não arbitrária. Por fim, as atrizes cederam e melhoraram seu comportamento. E o vestido? Rubens decidiu que ambas iriam aparecer em cena com roupas pretas e idênticas. Afinal, a razão está na direção!
Texto de Luana Manso
Revisado por Zilma Barros
Foto: Diego Nunes, Professor e Diretor Teatral, do Teatro Escola Habitart, ao lado de suas alunas Daniela Carvalho (de vestido amarelo) e Efigênia Braga (de vestido azul)
Fotógrafo Responsável: Rodrigo Oliveira