Já faz um tempo que assisti a uma entrevista da Marieta Severo em que ela dizia que mesmo após muitos anos de carreira ela se questionava se era mesmo atriz. Eu me questiono. Muito. Sempre. E conversando com colegas eu percebo que isso é relativamente normal. Há sim aqueles que possuem mais ego do que oxigênio circulando pelo corpo e acreditam que são atores desde o berço, mas fora isso uma grande parcela possui esse questionamento dentro de si. Alguns preferem reservar essa dúvida, não comentam com ninguém. Afinal, “o que é que vão pensar de mim”, não é mesmo?
Mas puxa, se até Marieta Severo tinha essa dúvida, porque é que euzinha aqui não posso ter? Não que eu queria me comparar com ela, jamais. Não possuo sequer o dedo mindinho comparado a ela, que é a minha grande diva. Bom, eu pago minhas contas com o meu ofício, o que – convenhamos – não é nada fácil; continuo estudando para me tornar uma profissional melhor; emito nota fiscal dos serviços prestados; recolho impostos… tudo isso como atriz e, ainda assim, eu me questiono.
Dizem que com o passar dos anos isso passa. Mas aí eu vejo a Betty Faria dizendo em entrevista para a Marília Gabriela que ela questiona o talento dela como atriz no teatro, que acha que não tem vocação para estar lá representando nos palcos. Minha ilusão de que um dia a insegurança passaria ruiu. Talvez eu chegue mesmo ao final da minha vida, que não sei precisar de quantos anos será, me questionando quanto a inúmeras coisas. Porém, se existe um único questionamento que nunca me fiz é se sou feliz nesta profissão. Nunca precisei me questionar porque a resposta está no brilho dos meus olhos. A cada manhã quando me levanto – ou a cada madrugada, quando tem gravação e é preciso chegar bem cedo no set – e olho no espelho, me lembro de quem eu sou, do meu lugar no mundo, do meu trabalho naquele dia, o brilho nos olhos e o sorriso no rosto é automático.
A Coluna de Quinta, ou a colunista de quinta que vos fala, sairá de férias em setembro e retorna em outubro. Até lá!
Foto: Ana Cecília Costa em A Língua em Pedaços
“Carla Buarque é atriz e usa a escrita como válvula de escape para as agruras do mundo”.