Eu gostava da minha mãe! Mas ela preferiu me abandonar… a defendi tanto daquele homem! Jamais o chamaria de pai. Nunca foi! Sempre nos agrediu. Me colocaram para fazer um curso de teatro. Acharam que eu era esquisto, calado. Pensaram que eu iria melhorar sendo ator. A tal da professora Cintia queria o meu bem. Ela é bonita, muita bonita. Tem os olhos azuis como a cor do céu e o cabelo preto como o pelo de um gatinho que eu tive há muito tempo. Sorria para mim e me dizia: “Vamos lá, Miguel! Suba no palco e faça o que te der vontade”. Eu subi naquele negócio com cortinas e… um monte de gente me olhava, o que eu ia fazer? O que é se soltar? Não sabia… fiquei de canto e não fiz nada.
A professora tinha paciência. Até demais… mas eu comecei a achar curioso este lance de atuar. Sei lá, parece ser legal viver uma vida que não é a sua, mas diante das outras crianças, eu não tinha coragem. Porém, a professora olhava em meus olhos e insistia: “Não se importe com os outros! Faça o que te der vontade!”. Tomei coragem e resolvi fazer o que me dava vontade. Atuei numa cena! Falei e me movimentei… acho que fui até engraçado. Os meus colegas riram e a professora me olhava com um brilho naqueles olhos azuis! Ficava ainda mais bonita… Eu não estava sozinho, contracenei com uma garota que ficou tímida e não conseguiu falar quase nada na encenação…
Ser ator é muito interessante! Não via a hora de chegar o dia da aula de teatro. Me sentia bem pois esquecia as coisas que me faziam sofrer. A professora avisou que iríamos atuar numa peça! Eu estava empolgado, queria saber do texto, do meu personagem, enfim, de tudo! A peça era a “A Bela Adormecida”, um conto de fadas para meninas… ah, mas a professora Cintia explicou que iríamos fazer uma versão mais divertida, um pouco diferente…Ela me escolheu para ser o príncipe! Era o papel principal depois da princesa! Mas ao contrário dos contos de fadas, este príncipe era medroso e gago. Gostei!
O maior problema nos ensaios, era que muitas vezes, todos falavam muito e ao mesmo, não escutavam a professora… primeira lição aprendida para a vida no teatro: ouvir! Se não ouvimos, não entendemos o diretor, os colegas e nem a nós mesmos. O trabalho não flui e o desgaste acontece.
Eu gostava de observar e a cada dia tomava mais gosto pela interpretação. Comecei a ler mais, até escrevendo direitinho eu estou! Na estreia da peça, fiquei tão nervoso! Mas foi tão legal! Disseram que eu tenho talento… EU tenho talento?! Queria que a minha mãe tivesse me visto… não importa mais, eu finalmente fiz o que meu deu vontade.
Por Luana Manso
Revisado por Zilma Barros