[Especial Teatros] Teatro Vaudeville

FONTE

O gênero teatral Vaudeville foi uma forma de entretenimento popular que misturava diversas atrações distintas. Em resumo: uma série de atos que não possui ligação um com o outro (enredo ou história), cujo os únicos objetivos em comum eram o de entreter, chamar a atenção e ganhar dinheiro. Em um período pós Guerra Civil, o desenvolvimento do Vaudeville, ou “Teatro de Variedades”. acabou tornando-se um grande negócio nos Estados Unidos e Canadá (entre 1800’s à 1930). O fato de reunir dezenas de artistas diferentes popularizou essa forma de arte, principalmente entre a classe média. Sua origem vem da França, por dos elementos teatrais da Pantomima (representação dramática com um dançarino solista e coro narrativo). Com o surgimento do Rádio e do Cinema, as pessoas passaram a buscar outras formas de se entreter. A Grande Depressão de 1929 também contribuiu para o fim. A origem do termo vem do francês “voix de ville” (voz da cidade).

Vaudevillians
The Passing Show, 1894

 

 

Vaudevillians, 1920’s
Características dos Shows e Principais Atrações

Os espetáculos de Vaudeville eram uma mistura de música e comédia, e as apresentações geralmente começavam ao anoitecer. O fato de muitos dos shows ocorrerem em bares e casas de espetáculos, chamou atenção da classe média urbana. Dentre as diversas atrações, destacam-se: números musicais, mágica, dança, comédia, performance com animais, acrobacias, atletas, representação de peças clássicas, performance de ciganos, etc. De fato deveria ser muito interessante.

Vaudevillians

 

A principio, as peças eram dirigidas somente ao público masculino, tanto que muitos atos eram grosseiros e obscenos demais para ser considerado algo para a família. Porém, com o sucesso ao redor do país, o gênero expandiu-se, passando a ser produzido para todos os públicos e principal foco na família. Uma das características do Vaudeville, semelhantes aos circos itinerantes, é o fato dos artistas e companhias estarem sempre viajando de cidade em cidade para apresentar seus shows. Na mesma época, outra formas de entretenimento foram surgindo, como os Dime Museums, O Mainstreal ShowMedicine Show, os Sideshows e o próprio Burlesque Americano.

Dime Museums: Foram os famosos museus baratos expondo tanto objetos estranhos, como pessoas consideradas fora dos padrões  – Cartaz de um Museu, 1897.
 
Medicine Shows: No século XIX, com o avanço da medicina, não demorou muito para que os médicos e charlatões viajassem de cidade em cidade, vendendo de tudo um pouco (até óleo de cobra), com a promessa da cura de todos os males.
Vaudevillians

Curiosidade – Vignette: Certa vez, li em um desses posts virais gringos, uma matéria sobre os aspectos da vida na Era Vitoriana. Nessa lista, destacava-se o “Vignette” como “uma forma de entretenimento, onde as pessoas se vestiam de forma estranha, posando umas paras as outras“. Provavelmente a pessoa que escreveu essa matéria encontrou uma foto no ebay com esse nome na legenda, e achou que era melhor fazer um comentário engraçado do que pesquisar para saber o real significado. “Vignette” são os famosos “Sketch Comedy”: pequenos shows que geralmente ocorriam nos intervalos entre um ato e outro. Seja no Vaudeville Americano, ou no Music Hall Britânico, ninguém vai se fantasiar e fazer encenação um para o outro, a menos que seja pago por isso! … a não ser que você esteja na sua residência, bastante entediado, e chama a titia, o filho e a vovó para fazer uma encenação na sala de jantar.

Cartaz de anúncio dos Shows
The Black Vaudeville Show
Cartaz da Companhia “A Rabbit’s Foot”

Black Vaudeville também surgiu no século XIX nos Estados Unidos. Os artistas eram Afro-americanos que por não serem aceitos pelos brancos acabaram criando a sua própria forma de entretenimento – feita por eles e para eles. Pat Chappelle foi o responsável pela primeira companhia de teatro só de negros, criada em 1898. Os shows eram diferentes do Vaudeville tradicional do homem branco, tanto na forma de atuação como nas músicas executadas, pois tinham influências diretas na Cultura Africana. Muitos artistas preferiam trabalhar como performers, mesmo sofrendo rejeição social. Para eles era bem melhor do que ser um trabalhador braçal ou serviçal em casa de família.

Artistas de palco acompanhados por um “Blackface”, 1920’s – Via

As músicas do Black Vaudeville influenciaram diretamente o Jazz, Blues, Swing e Shows da Broadway. O “Rangtime” era o estilo musical da época, composto por piano e banjo. Eles também tinham sua própria associação chamada “The chitlin circuits” (o nome “chitlin” vem de uma comida que os brancos consideravam repulsiva, como intestinos de porco). “The Hyer Sisters” foram as primeiras mulheres Afro-americanas a se apresentarem em um teatro de Vaudeville; Aida Overton Walker foi uma das poucas (se não a única), mulher negra a ser autorizada a se apresentar em um show para brancos. A turnê com mais de 75 artistas foi um sucesso e se tornou um marco fundamental na história dos negros no entretenimento.

 
Poster de Mistreal Show – via

The Minstreal Show: Não demorou muito para que o homem branco notasse que os negros também eram talentosos, principalmente na dança e canto. Naquela época nos Estados Unidos, diversos artistas brancos já imitavam os negros. O Minstreal Show surgiu como uma nova forma de entretenimento que não passava de uma sátira racista em que performers brancos se caracterizavam como negros – os famosos Blackfaces. Por mais repulsivo que isso seja, esse foi um dos gêneros dentro do  conceito de Vaudeville de maior sucesso, e se manteve popular mesmo depois do declínio do próprio Vaudeville.

Bert Willians caracterizado como Blackface. Ele foi companheiro de palco da Aida Orverton Walker e do seu marido. Foi o primeiro homem negro a se apresentar no Ziegfeld Follies. Construiu uma carreira de sucesso no Vaudeville e posteriormente na Broadway. – via

A partir de 1860, os negros começaram a reproduzir seu próprio “Black Minstreal Show“, em que também se caracterizavam como “Blackfaces”, sendo considerados mais autênticos e reais, chegando a disputar público com o “White Minstreal Show“. Para quem quiser se aprofundar mais sobre o tema, e como ele foi parar em meios de comunicação, sugiro que leiam a matéria completa do blog Vintage & Geek.

Indico esse documentário sobre o papel dos negros no Vaudeville!
Os mais famosos “Showmans” do Vaudeville!
 
Retrato de B.F. Keith. Fotografia do teatro de Keith em Boston (1894).


Benjamin Franklin Keith: É considerado o pai do Vaudeville Americano. Ele começou sua carreira em 1870, trabalhando em circos itinerantes e, posteriormente, tendo seu próprio teatro chamando “Baby Alice the Midget Wonder”. Keith desenvolveu uma política em seu estabelecimento que proibia a vulgaridade no shows ministrados em seu teatro, censurado qualquer artista que viesse a “passar dos limites”. Keith conseguiu conciliar públicos distintos em um período pós Guerra Civil, reforçando a imagem clássica e convidativa de um teatro.
 
Retrato de Tony Pasto. Ao lado, poster de divulgação de sua cia de teatro.

Tony Pastor: Antonio Pastor foi um dos pioneiros do Vaudeville nos Estados Unidos. Ele era apresentador e dono de teatros, cantor, ator e produtor. Trabalhou em concertos variados – dentre eles o Minstreal Show citado acima. Diferente de muitos outros colegas da época, Tony começou a focar as atrações de seu teatro com base em um público misto, composto tanto por homens quanto por mulheres e crianças.

“Music Hall” o Vaudeville Britânico!
Music Hall durante a Era Vitoriana – Via

O Music Hall Britânico: A Inglaterra também teve o seu “teatro de variedades”. No caso, “Music Hall” foi a forma popular de entretenimento da Era Vitoriana. Os estabelecimentos ofereciam bar, números de dança, canto e comédia com diferentes artistas. As pessoas podiam consumir comida, tabaco e álcool. Expandiu-se por toda a Inglaterra. Acabou gerando atritos entre os donos de teatros tradicionais que disputavam a atenção do público. O legado desse entretenimento na cultura britânica está na literatura, cinema e na música através das canções da época, que até hoje são consideradas um clássico.

Performers de Music Hall – via

Qual é a diferença entre Vaudeville e Burlesque?
 
 Artista de Vaudeville X Artista Burlesca


A gêmea boazinha X a gêmea malvada
: É comum algumas pessoas terem esse tipo de dúvida, e até acabam achando que um e outro são a mesma coisa. Bem, ambos são gêneros do entretenimento que surgiram no mesmo lugar e época, vieram praticamente da mesma fonte, tiveram o auge do sucesso também na mesma época, eram frequentados pela mesma classe social. Contudo, a diferença é que o Vaudeville é mais “Light”, feito com o intuito de entreter a família. Enquanto que no Burlesco o público alvo eram os homens. O Burlesque é sobre sexo, onde mulheres exercem a arte de se despir da forma mais elegante. O Vaudeville é sobre rir e se divertir com homens se fantasiando de mulheres, por exemplo. O fato de artistas burlescas executarem alguns números características de shows de Vaudeville (como acrobacias), usarem figurinos chamativos e por ter começado como uma sátira, talvez seja o causador de tantas dúvidas. Vaudeville geralmente eram compostos por companhias itinerantes, que viajavam de um lado para outro. Já as apresentações Burlescas tendem a se concentrar em um único local. Espero que tenha esclarecido qualquer dúvida!

Eva Tanguai, a garota do “I Don’t Care” que se casou publicamente com Julian Eltinge. Ficou conhecida como “A Rainha do Vaudeville”

Muitos artistas começaram a migrar para o cinema, e posteriormente rádio e televisão. Nem todos conseguiram se adaptar a esse novo modelo. Outros no entanto, sentiram resistência durante o período de transição do cinema mudo para o “cinema falado”. A estética dos espetáculos do Vaudeville influenciaram diretamente nos moldes do cinema e nos Shows da Broadway.

Dica de Filmes e Documentários:

The Sunshine Boys (1975): Comédia em que conta a história de uma dupla de sucesso que depois de anos separados resolvem se reencontrar. No Brasil o filme ficou conhecido como “Uma dupla desajustada”.
Harry and Walter Go To New York (1976): Em “Dois vigaristas em Nova York” temos a história de dois comediantes que, após conseguir fama, resolver ir para o mundo do crime.

The Illusionist (2010): Um famoso ilusionista Eisenheim começa a assombrar a população com suas mágicas incríveis e inexplicáveis. O Príncipe Leopold resolve desmascará-lo e vai a um de seus shows na companhia da noiva, que reconhece o ilusionista com seu antigo amor. Os dois começam a viver um romance.
Cenas antigas dos artistas no palco!
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