O gênero teatral Vaudeville foi uma forma de entretenimento popular que misturava diversas atrações distintas. Em resumo: uma série de atos que não possui ligação um com o outro (enredo ou história), cujo os únicos objetivos em comum eram o de entreter, chamar a atenção e ganhar dinheiro. Em um período pós Guerra Civil, o desenvolvimento do Vaudeville, ou “Teatro de Variedades”. acabou tornando-se um grande negócio nos Estados Unidos e Canadá (entre 1800’s à 1930). O fato de reunir dezenas de artistas diferentes popularizou essa forma de arte, principalmente entre a classe média. Sua origem vem da França, por dos elementos teatrais da Pantomima (representação dramática com um dançarino solista e coro narrativo). Com o surgimento do Rádio e do Cinema, as pessoas passaram a buscar outras formas de se entreter. A Grande Depressão de 1929 também contribuiu para o fim. A origem do termo vem do francês “voix de ville” (voz da cidade).
Os espetáculos de Vaudeville eram uma mistura de música e comédia, e as apresentações geralmente começavam ao anoitecer. O fato de muitos dos shows ocorrerem em bares e casas de espetáculos, chamou atenção da classe média urbana. Dentre as diversas atrações, destacam-se: números musicais, mágica, dança, comédia, performance com animais, acrobacias, atletas, representação de peças clássicas, performance de ciganos, etc. De fato deveria ser muito interessante.



Curiosidade – Vignette: Certa vez, li em um desses posts virais gringos, uma matéria sobre os aspectos da vida na Era Vitoriana. Nessa lista, destacava-se o “Vignette” como “uma forma de entretenimento, onde as pessoas se vestiam de forma estranha, posando umas paras as outras“. Provavelmente a pessoa que escreveu essa matéria encontrou uma foto no ebay com esse nome na legenda, e achou que era melhor fazer um comentário engraçado do que pesquisar para saber o real significado. “Vignette” são os famosos “Sketch Comedy”: pequenos shows que geralmente ocorriam nos intervalos entre um ato e outro. Seja no Vaudeville Americano, ou no Music Hall Britânico, ninguém vai se fantasiar e fazer encenação um para o outro, a menos que seja pago por isso! … a não ser que você esteja na sua residência, bastante entediado, e chama a titia, o filho e a vovó para fazer uma encenação na sala de jantar.

O Black Vaudeville também surgiu no século XIX nos Estados Unidos. Os artistas eram Afro-americanos que por não serem aceitos pelos brancos acabaram criando a sua própria forma de entretenimento – feita por eles e para eles. Pat Chappelle foi o responsável pela primeira companhia de teatro só de negros, criada em 1898. Os shows eram diferentes do Vaudeville tradicional do homem branco, tanto na forma de atuação como nas músicas executadas, pois tinham influências diretas na Cultura Africana. Muitos artistas preferiam trabalhar como performers, mesmo sofrendo rejeição social. Para eles era bem melhor do que ser um trabalhador braçal ou serviçal em casa de família.
As músicas do Black Vaudeville influenciaram diretamente o Jazz, Blues, Swing e Shows da Broadway. O “Rangtime” era o estilo musical da época, composto por piano e banjo. Eles também tinham sua própria associação chamada “The chitlin circuits” (o nome “chitlin” vem de uma comida que os brancos consideravam repulsiva, como intestinos de porco). “The Hyer Sisters” foram as primeiras mulheres Afro-americanas a se apresentarem em um teatro de Vaudeville; Aida Overton Walker foi uma das poucas (se não a única), mulher negra a ser autorizada a se apresentar em um show para brancos. A turnê com mais de 75 artistas foi um sucesso e se tornou um marco fundamental na história dos negros no entretenimento.


The Minstreal Show: Não demorou muito para que o homem branco notasse que os negros também eram talentosos, principalmente na dança e canto. Naquela época nos Estados Unidos, diversos artistas brancos já imitavam os negros. O Minstreal Show surgiu como uma nova forma de entretenimento que não passava de uma sátira racista em que performers brancos se caracterizavam como negros – os famosos Blackfaces. Por mais repulsivo que isso seja, esse foi um dos gêneros dentro do conceito de Vaudeville de maior sucesso, e se manteve popular mesmo depois do declínio do próprio Vaudeville.
A partir de 1860, os negros começaram a reproduzir seu próprio “Black Minstreal Show“, em que também se caracterizavam como “Blackfaces”, sendo considerados mais autênticos e reais, chegando a disputar público com o “White Minstreal Show“. Para quem quiser se aprofundar mais sobre o tema, e como ele foi parar em meios de comunicação, sugiro que leiam a matéria completa do blog Vintage & Geek.




Tony Pastor: Antonio Pastor foi um dos pioneiros do Vaudeville nos Estados Unidos. Ele era apresentador e dono de teatros, cantor, ator e produtor. Trabalhou em concertos variados – dentre eles o Minstreal Show citado acima. Diferente de muitos outros colegas da época, Tony começou a focar as atrações de seu teatro com base em um público misto, composto tanto por homens quanto por mulheres e crianças.
O Music Hall Britânico: A Inglaterra também teve o seu “teatro de variedades”. No caso, “Music Hall” foi a forma popular de entretenimento da Era Vitoriana. Os estabelecimentos ofereciam bar, números de dança, canto e comédia com diferentes artistas. As pessoas podiam consumir comida, tabaco e álcool. Expandiu-se por toda a Inglaterra. Acabou gerando atritos entre os donos de teatros tradicionais que disputavam a atenção do público. O legado desse entretenimento na cultura britânica está na literatura, cinema e na música através das canções da época, que até hoje são consideradas um clássico.


A gêmea boazinha X a gêmea malvada: É comum algumas pessoas terem esse tipo de dúvida, e até acabam achando que um e outro são a mesma coisa. Bem, ambos são gêneros do entretenimento que surgiram no mesmo lugar e época, vieram praticamente da mesma fonte, tiveram o auge do sucesso também na mesma época, eram frequentados pela mesma classe social. Contudo, a diferença é que o Vaudeville é mais “Light”, feito com o intuito de entreter a família. Enquanto que no Burlesco o público alvo eram os homens. O Burlesque é sobre sexo, onde mulheres exercem a arte de se despir da forma mais elegante. O Vaudeville é sobre rir e se divertir com homens se fantasiando de mulheres, por exemplo. O fato de artistas burlescas executarem alguns números características de shows de Vaudeville (como acrobacias), usarem figurinos chamativos e por ter começado como uma sátira, talvez seja o causador de tantas dúvidas. Vaudeville geralmente eram compostos por companhias itinerantes, que viajavam de um lado para outro. Já as apresentações Burlescas tendem a se concentrar em um único local. Espero que tenha esclarecido qualquer dúvida!

Muitos artistas começaram a migrar para o cinema, e posteriormente rádio e televisão. Nem todos conseguiram se adaptar a esse novo modelo. Outros no entanto, sentiram resistência durante o período de transição do cinema mudo para o “cinema falado”. A estética dos espetáculos do Vaudeville influenciaram diretamente nos moldes do cinema e nos Shows da Broadway.
Dica de Filmes e Documentários:
The Illusionist (2010): Um famoso ilusionista Eisenheim começa a assombrar a população com suas mágicas incríveis e inexplicáveis. O Príncipe Leopold resolve desmascará-lo e vai a um de seus shows na companhia da noiva, que reconhece o ilusionista com seu antigo amor. Os dois começam a viver um romance.
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