[Repertório] Atores têm atividade cerebral diferente quando estão em cena

Entregar-se a um personagem é uma técnica teatral que exige muito talento. Segundo um grupo de pesquisadores da Universidade McCaster, no Canadá, os atores podem até apresentar diferentes padrões de atividade cerebral caso estejam imersos na interpretação. “Atores têm que dividir sua consciência, monitorando a si mesmos e aos personagens ao mesmo tempo”, afirmou o autor da pesquisa, Steven Brown, em entrevista ao jornal The Guardian.

O estudo publicado no periódico Royal Society Science envolveu 15 atores – a maioria estudantes de teatro – representando os papéis principais da peça Romeu e Julieta, de William Shakespeare.

Os atores tiveram que responder a várias perguntas enquanto viviam seus papéis. E, após a apresentação, foram levados ao laboratório, onde tiveram seus cérebros escaneados em uma série de experimentos.

Análise

Em um aparelho de ressonância magnética, os atores foram submetidos a várias perguntas que apareciam em uma tela. Todas eram parte do que acontecia com os protagonistas da peça, como “Você iria a uma festa sem ser convidado?” e “Você contaria aos seus pais caso estivesse apaixonado?”, por exemplo.

Cada participante respondeu às questões de acordo com premissas que estavam em ordem aleatória. Em uma delas, tiveram que responder com base na própria perspectiva individual, em outra, tinham que falar com base em como um amigo próximo responderia.

Em um terceiro exercício, foi pedido que os atores respondessem como se fossem Romeu ou Julieta; e, em um quarto experimento, tinham que falar com sotaque britânico, embora todos os participantes fossem canadenses.

Pintura "Romeu e Julieta", de Frank Dicksee, do ano de 1884. (Foto: Wikipedia Commons)
PINTURA “ROMEU E JULIETA”, DE FRANK DICKSEE, DO ANO DE 1884. (FOTO: WIKIPEDIA COMMONS)

Atividade cerebral 

Quando os atores responderam as perguntas na perspectiva de amigos próximos ou com base no próprio ponto de vista, detectou-se uma queda na atividade cerebral em áreas do córtex pré-frontal.

Uma queda muito similar na atividade do cérebro foi identificada nos cenários nos quais os atores estavam representando seus personagens. Com isso, concluiu-se que eles utilizaram uma noção relacionada à terceira pessoa ou fizeram inferências, afirmando a verdade de uma proposição com base em noções já reconhecidas como verdadeiras.

Em cena, os artistas apresentaram diminuição em duas regiões do córtex pré-frontal ligadas à noção de si – isso quando comparado à situação na qual respondiam como sendo eles mesmos.

Uma queda também foi constatada quando os atores falavam em sotaque britânico e respondiam no seu próprio ponto de vista.

Para Brown, isso permite concluir que gestos são vitais para a imersão em qualquer papel teatral. “A desativação associada com uma queda e supressão do conhecimento próprio vai de encontro com o que o ato de atuar envolve”, defendeu Brown. “Parece que, quando você está atuando, reprime a você mesmo, quase como se o personagem estivesse te possuindo.”

FONTE

Publicidade

4 comentários

  1. Artigo fantástico! Eu já estava vivenciando essa experiência, pois sou ator, sem saber como ela funcionava dentro da minha cabeça. Muito interessante mesmo.

    Curtir

  2. Já que vcs têm interesse nesta matéria, tenho uma artigo escrito sobre este tema. Se chama: Sistema Stanislaviski: a relação da psicologia com o teatro e os processos psíquicos envolvidos no trabalho do ator. Se interessar me mandem um email que eu reescrevo o artigo para o site em formato jornalistico. Sou psicologa, atriz, diretora de teatro e arte-educadora, diretora artística e de formação do Bando de Teatro dos Comuns.

    Curtir

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s