[Quarta Parede] O homem que foi salvo pela arte

Quando menos esperamos, perdemos pessoas que são referências em nossa vida, nossos pilares. E isso pode ser fortalecedor para uns e catastrófico para outros, depende muito do poder individual de superação. Igor passava por momentos muito difíceis em sua vida. Terminou um relacionamento com uma pessoa que amava muito e havia se distanciado de um amigo muito querido. E agora mais essa: A morte de seu pai. Já não tinha mãe, falecida quando era pequeno. Vivia um relacionamento complicado com sua irmã. A única referência era o pai.

Como lidar com a morte? Depende muito… Igor ao ver o companheiro e amigo de muitas jornadas morto devido a um infarto fulminante, sentiu-se derrotado diante de algo que não podia evitar. Velório, enterro, missas e homenagens, rituais que apenas contribuíram para alimentar e aumentar o seu sofrimento. Recebeu apoio e conselhos. Abraçou sua irmã, choraram juntos mas, para ele, aquilo era apenas pela dor momentânea da morte. Logo as coisas voltariam ao seu estado normal e os desentendimentos retornariam.

Igor estava sem motivação. Via a crise no país, observava as pessoas cada vez mais frias, distantes de sentimentos de nobreza e solidariedade. E não tinha mais pai… Formado em administração, amava seu trabalho, mas nem isso estava lhe dando mais prazer. Pensava em cometer uma loucura, porém… Andando tristonho pela rua, uma jovem lhe entregou um panfleto e ao ler ficou surpreso:

– Escola de teatro com cursos em aberto?

De repente, lhe bateu uma curiosidade! Afinal, nunca foi frequentador de teatro e jamais prestou atenção nesta manifestação artística. Andava tão desiludido, que conhecer um lugar diferente do que estava habituado talvez lhe fizesse bem. Mas Igor teve momentos de recaída e indecisões, ele quase se deixou vencer pela dor. Adiou sua visita ao teatro por diversas vezes. Porém, algo o atraía e não deixava de pensar no curso. Quando venceu sua inércia e foi até a escola, o professor o convidou a fazer uma aula-teste e… Mas logo no dia da aula de improviso?! Na turma eram cinco pessoas, seis contando com Igor. No palco havia apenas um pijama e o professor explicou a tarefa:

– Quero que venham ao palco e façam uma interação com esse pijama. Sejam livres e façam o que a criatividade mandar!

Igor não tinha a menor ideia do que fazer. “Como inventar uma história usando apenas um pijama?” Se questionava internamente. Não entendia nada de improviso, nunca havia subido num palco, mas ao ver seus colegas desenvolvendo criativas situações, achou interessante, pois até os mais tímidos se soltaram de maneira impressionante. Então ele pensou, divertido: – Quem sabe posso dar certo nesta atividade? Resolveu se transformar em uma criança e apresentou ao professor e aos outros alunos, um menino que tinha medo de dormir por causa do “monstro do armário”. Foi encantador, emocionante e divertido. Naquele momento seu sofrimento foi amenizado.

Aquela aula teve um efeito transformador para Igor. Sentiu-se livre como há muito tempo não sentia. Decidiu matricular-se no curso e aos poucos a alegria voltou a habitar dentro dele. O teatro tornou-se o grande responsável por Igor recuperar sua fé na vida, nas pessoas e em si próprio. Não queria ser ator, já tinha uma profissão, mas a arte foi a sua salvação. Passou a assistir espetáculos teatrais e a incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo.

A arte é uma medicina. Ela transporta as pessoas para outras vidas, libertando-as das tristezas. É um alimento crucial para a alma.

Texto de Luana Manso
Revisado por Zilma Barros
Foto: Diego Nunes (Ator)
Fotógrafo Responsável: Rodrigo Oliveira

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