Ah, o público! Nós, artistas precisamos dele! Afinal, nosso trabalho é feito somente para ele. A reação da plateia motiva e faz atores e atrizes crescerem em cena. Quando o espectador vibra com as cenas, ou ri com as tiradas de determinados personagens, é um ato consagrador para o artista! Alguns, inclusive, se empolgam tanto que se esquecem das marcas, do texto e da solidariedade com o colega a fim de fazer um show à parte, simplesmente para prosseguir com o agrado ao público. Porém, há o efeito contrário também… Uma plateia fria, que não esboça nenhuma reação, pode acabar com o entusiasmo de todo o elenco, tornando a peça cansativa, pesada e arrastada. Mas será que é correto o desempenho do ator ser totalmente influenciado pelo público?
Um determinado grupo teatral foi apresentar um espetáculo, uma comédia, pontualmente às 20 horas em um teatro no Centro de São Paulo, não muito conhecido, mas bem frequentado. Porém, naquele dia o público em massa resolveu ter um comportamento nada adequado, isso antes mesmo da peça começar… Agitados, alguns mexiam no celular o tempo todo, outros falavam alto, já outra parte gritava quando encontrava o lugar ideal para sentar, avisando ao amigo, ou familiar que estava procurando cadeira do outro lado do espaço… Já os adolescentes tiravam selfies. Algumas pessoas comiam, mesmo sabendo que ali não é permitido. O diretor ao ver tudo isso, imaginou que para os atores seria um desafio e tanto aquela apresentação! Decidiu não avisá-los. Queria ver o poder de reação deles diante daquela situação…
Que alegria para o elenco! Logo na primeira entrada, que reunia a todos, viram uma plateia cheia. Porém, bastou o ator soltar a primeira frase para começaram os comentários e risos descontrolados. O ator mal conseguia seguir o seu texto. A plateia não tinha freio! E piorou no decorrer do espetáculo. Afinal, quando não riam para escrachar, se concentravam no celular ou em conversas alheias à peça. Mesmo sabendo que não era permitido o uso do aparelho durante o espetáculo. E ninguém da administração do espaço tomava providências.
O texto estava se perdendo e os atores demostrando irritação. O diretor estava ficando nervoso e ameaçou dar bronca no público mal educado. Um dos atores, muito bonito, típico galã, acabou sendo alvo de um comentário de uma jovem da plateia, por causa de uma cena em que seu pedido de casamento é rejeitado. Ela teve a audácia de se levantar e dizer:
– Ela te rejeita? Então casa comigo! – Disse rebolando de forma vulgar, chamando mais atenção do que a cena.
Os amigos desta jovem começaram a gritar, e a moça ameaçou ir até o palco, mas foi barrada. O ator desceu do palco a fim de responder à sua provocação e à sua falta de postura e disse, sem sair do personagem que era um jovem tímido, romântico e gentil:
– Um momento! Uma senhorita não deveria agir assim! Que tal sentar e aprender como se dança de verdade? Disse gentilmente, beijando sua mão e direcionando-a para o seu lugar.
O ator voltou ao palco e saiu de cena. A atriz que ficou e que interpretava uma personagem geniosa e malvada, resolveu, antes da plateia reagir, dançar imitando a jovem de forma exagerada. E respondeu para a garota também.
– E aí? Se arrisca a continuar rebolando até o chão?
A jovem ficou sem graça, a plateia reagiu com palmas, e a atriz, aproveitando o sucesso de sua atitude, fez um gesto com as mãos igual ao Jô Soares, quando é para os músicos do seu programa pararem de tocar, pedindo silêncio. O público entendeu e ficou quieto. Ao menos por um tempo… Mas quando a agitação recomeçou, os atores, mesmo com dificuldade conseguiram, a partir daquele momento, a ter o domínio da situação. E, enfim, a apresentação acabou sendo bem sucedida!
O artista tem duas vontades quando se apresenta: ver o teatro lotado e perceber na plateia, reações expansivas por causa de sua interpretação. Esse desejo é natural e compreensivo. Mas quando isso não acontece, o ator tem obrigação de fazer o seu trabalho da mesma forma, com a mesma intensidade, lutando para cativar a plateia fria a agitada. Quem domina o espetáculo e influencia o público é o ator. Sempre!
Texto de Luana Manso
Revisado por Zilma Barros
Foto: Zivalda Alves (Atriz)