Nasci em uma família de classe média média. Não era classe média baixa, sem aquela falsa modéstia. Muito menos era classe média alta. Toda semana ia uma moça limpar a casa dos meus pais, eu não sabia que o nome daquela profissão era diarista, mas eu achava muito legal. Ela podia lavar quintais todos os dias e a mãe dela não brigava com ela. Esta foi a primeira profissão que desejei na vida. Até hoje eu adoro os serviços domésticos e faço uma faxina na casa como ninguém.
Logo depois, influenciada pelo filme Free Willy, eu me apaixonei pelos cetáceos e dizia que queria ser bióloga marinha. Algo que voltou à tona lá pelo segundo colegial, mas fui vetada quando meus pais não apoiaram muito a ideia de ter a filha única trabalhando em alto mar (sim, porque eu o que queria era isso). O desejo ficou encubado e continuo mantendo fascínio pelo mar e seus habitantes.
Como toda criança que tem um pediatra bonzinho eu também quis ser médica, mas a ideia de lidar com sangue não me agradava e acabei deixando a ideia de lado. Porém, seriados médicos são as drogas que consumo, confesso. Quase prestei vestibular para jornalismo, sempre gostei muito de escrever e desejava também seguir meu caminho por aí. Também quis ser advogada, publicitária, mergulhadora, professora de história, pedagoga, pesquisadora, costureira e tantas outras coisas mais.
Entrei na faculdade de psicologia e realmente adorava aquilo! Pretendia seguir na área de psicologia hospitalar, planos frustrados quando descobri que na minha cidade aquilo praticamente não existia e eu não me mudaria tão cedo dali, pois estava prestes a me casar. Por ironia da vida acabei me tornando bancária – e merece uma crônica a quantidade de atores ex-bancários que eu já conheci.
Querendo ser tantas coisas, ter tantas profissões, exercer tantos eus e sendo uma única pessoa para tanto, resolvi ser atriz – embora nem tenha sido um processo consciente assim. E hoje a cada personagem eu me realizo.
“Carla Buarque é atriz e usa a escrita como válvula de escape para as agruras do mundo”.