“O fato é que o mundo anda repleto de pessoas ditando regras e o mundo teatral não foge disso. (…) Pois a arte não é, por si só, um processo constante de transformação? Então porque insistimos em formar grupinhos exclusivistas?”
“Teatro é isso”. “Não, teatro é aquilo”. Quem disse? Onde é que está determinado? Eu mesma já disse muita coisa aqui. E já me arrependi de algumas. O fato é que o mundo anda repleto de pessoas ditando regras e o mundo teatral não foge disso. As artes dramáticas, como um todo, não fogem.
Pois a arte não é, por si só, um processo constante de transformação? Então porque insistimos em formar grupinhos exclusivistas? Não estamos sendo como o grupo de patricinhas do colégio que se acredita acima dos outros também? Quem foi que nos colocou nesse Olimpo? Nós mesmos? Quando comecei a fazer teatro, no meu grupo havia empresário, herdeiro, funcionário público, serviços gerais, doméstica, madame, costureira, motorista…
Alguns dominavam Brecht e outros mal sabiam ler. Todos os níveis sociais e intelectuais. E aí estava a beleza! Ninguém ditava regra, havia respeito. “Para fazer teatro é preciso…”, nunca ouvi isso lá. Tive grandes mestres que me ensinaram que o teatro é do povo e para o povo. E eu quase me esqueci disso! Peço desculpas a vocês, leitores, se por vezes eu também fui arrogante e achei que o teatro era para poucos. Não estou dizendo que não devemos procurar
sermos cultos, nos educarmos e nos abastecermos de conhecimentos, mas não devemos ditar regras e excluirmos aqueles que tiveram menos oportunidades que nós.
Foto: 2º Festival de Teatro de Rua de Porto Alegre / Fernando Pires
“Carla Buarque é atriz e usa a escrita como válvula de escape para as agruras do mundo”.