Plínio surgiu animado na sala de sua casa onde seus pais conversavam no sofá. Ele então resolveu disparar:
– Vou ser ator!
Espantados, Nelson e Janete se entreolham, sem entender.
– Vou estudar e trabalhar como ator! Não queriam saber qual faculdade pretendo fazer? Qual profissão quero seguir? Pois bem, já decidi!
O pai levantou do sofá e encarou o filho, perplexo.
– Só pode estar louco… Isso lá é profissão?! – Saiu da sala sem querer motivar discussão alguma, afinal, para ele o filho não estava falando sério. E pelo visto, a mãe compartilhava da mesma opinião…
– Você e suas piadas… Acho bom decidir logo qual faculdade pretende cursar, não pode ficar pensando a vida toda, menino!
Plínio nada disse, pois, sua irmã mais nova surgiu na sala. Sentou-se no sofá, ligou a TV e colocou em um desenho, porém não estava prestando a mínima atenção nele. Seu olhar era triste. Uma criança de nove anos, solitária e infeliz. A mãe, a cada dia ficava mais e mais preocupada. Ivani era muito tímida e não tinha amigos na escola. Janete aproximou-se da criança, e tentou falar sobre um assunto qualquer. E as respostas vieram de maneira monossilábica… Plínio observou. Porém, tinha um compromisso e teve que sair.
O tempo passou, e dois meses com ele se foram. Janete, mas principalmente Nelson persistiam em pressionar Plínio, que não mais falou a respeito do seu intuito com a arte. Porém, certa vez, o rapaz ouviu seus pais conversando a respeito de Ivani. Janete falava empolgada de como a menina modificou o seu comportamento nos últimos meses. Plínio, não prestou atenção nisso, pois entrava e sai de casa sem perceber ou notar qualquer mudança na rotina do lar. Ficou curioso, principalmente ao notar a emoção da mãe ao dizer que Ivani estava feliz e alegre. O pai ouvia feliz e satisfeito, alegando que valeu a pena investir no curso para a garota. Encerraram o assunto, pois o celular de Nelson tocou. Plínio foi até o quarto da irmã e a viu em frente ao espelho fazendo inúmeras caretas.
– Ivani! Nossa como você está animada! Por que está fazendo estas caretas?
– Ué! Você não sabe? Minha professora de teatro falou que caretas ajudam a melhorar a expressão! Ela é atriz! Convidou a turma toda para assistir à peça que ela está apresentando! Não é legal?
– Muito legal! Ouvi a mamãe falando do seu curso. Puxa… Isso é maravilhoso!
Ivani sorri feliz, mas logo voltou a atenção para o espelho. Plínio estava ciente que seus pais perceberam a importância deste ofício na vida das pessoas, e que ser um profissional desta área é sublime. Nada disso! Para a sua decepção, seus pais reagiram muito mal quando voltou a dizer que ia ser ator. “Estudar teatro para deixar de ser tímido é uma coisa. Agora fazer disso uma profissão? Poupe-me… Quer ajudar ao próximo? Seja médico!”. Decretou o pai.
Pais e mães aceitam o filho matriculado em um curso de teatro. Mas pais e mães não aceitam ver o filho na profissão de ator. Porém, o que será dos filhos que precisam dos cursos teatrais, sem os profissionais da arte para ensiná-los?
Texto de Luana Manso
Revisado por Zilma Barros