Jerônimo não era ator, diretor e muito menos dramaturgo, mas adorava as artes! Por isso, alugou um espaço no centro da cidade, convidou alguns amigos artistas, transformando o local em um teatro. Achou que iria conseguir lucro tranquilamente por estar em uma região movimentada. Porém, enganou-se… As pessoas não notavam o espaço, mesmo com o esforço de todos os profissionais. Parecia que ali a arte não despertava nenhum interesse. Mas, naquela região havia muitos bares. Ah, sim os bares… nunca estavam vazios! Então Jerônimo teve a ideia de abrir um bar junto ao teatro.
E não é que deu certo? Jerônimo teve êxito, pois o local ganhou intenso movimento. Com isso o aluguel e as contas eram pagos de forma tranquila. Mas havia um problema. Raramente as pessoas que frequentavam o bar frequentavam também o teatro. O público que assistia às peças, era aquele que realmente tinha apreço pela arte. Até ficavam no bar, mas o interesse era exclusivo pelo teatro, mas, era uma parcela muito pequena. A maioria dava preferência para o bar. Jerônimo tentava de todas as maneiras levar o público do bar para assistirem alguma peça, porém, não conseguia.
Jerônimo ficou descontente, pois além do bar estar sendo mais importante do que a arte, aos poucos as ruas e calçadas da localidade próxima ao seu espaço foi sendo transformada num reduto de pessoas, cujo objetivo era somente o uso de drogas e o alcoolismo exacerbado, resultando em brigas e vexames. Jerônimo lembrou-se do tempo em que se reunia com os amigos e conversavam de forma saudável sobre música, poesia, cinema e teatro. Claro que bebiam, mas de forma consciente. Ele olhava aquelas calçadas com tanta gente sem noção do que faz! E ainda se dizem artistas ou que apreciam a arte. Jerônimo, então, resolveu fechar as portas de seu teatro. Arte não é instrumento de estímulos a vícios e à autodestruição.
Entendo e sei o quanto é difícil manter um espaço cênico. A cultura brasileira, em sua maioria, não está acostumada a valorizar a arte em seu berço, aquela que nasce nos palcos. As contas chegam, as despesas existem e muitas vezes, depender exclusivamente da renda das peças e dos cursos ou oficinas, não é o suficiente. A missão da arte é unir pessoas, auxiliando na reflexão, conhecimento, diversão, emoção, transformação e desenvolvimento das suas capacidades. É compreensível que alguns teatros busquem outras formas de lucro além dos espetáculos em cartaz em seus espaços, mas é necessário ter cautela para que o objetivo da arte não se perca.
Texto de Luana Manso
Revisado por Zilma Barros