Tive a honra de ver essa grande atriz uma vez de perto em “Hipóteses para o amor e a verdade”, da Cia. de Teatro Os Satyros, na peça ela não tinha falas, mas me levou às lágrimas somente com a sua força em cena, eu chorava todas as vezes que sua personagem, uma cadeirante, também chorava.
Desde então quis saber mais sobre quem era aquela grandiosa atriz, aquela mulher com uma presença cênica tão grandiosa, e descobri uma pessoa mais forte ainda do que aquela personagem, uma pessoa que por si só, já é um grande espetáculo, digno de ser aplaudido em pé.
Artista profissional desde os 15 anos, Phedra é cubana nascida em Havana em 26 de maio de 1938 e integra a companhia teatral paulistana Os Satyros.
Phedra nasceu Felipe Rodolfo Acebal, caçula dos oito filhos do oculista Horário Acebal e da dona de casa Maria Teresa Betancourt. Desde menino, queria estar nos teatros de Havana: “Sempre quis ser diva”.
A família rejeitava sua alma feminina. “Minha mãe me combatia, meus irmãos caçoavam, meu pai não falava nada.” Aos 16, pouco antes de o comunista Fidel Castro tomar o poder, fugiu de Cuba e ganhou o mundo.
Apresentou-se por vários países até aportar no Rio, em 1958, convidada pelo produtor Walter Pinto para fazer teatro de revista, ainda como Felipe D. Córdoba. Mas logo virou Phedra. “Com Ph mesmo, porque é grego. Muitos donos de boates erravam nos cartazes e botavam F.”
Em 1972, mudou-se para São Paulo, para “fazer dramaturgia”. Virou ícone da noite paulistana. Em tempos de repressão da ditadura, era melhor afirmar ser espanhola do que cubana, mesmo jamais tendo apoiado o discurso comunista. “Fidel foi um ditador e matou muita gente”, esbraveja.
Depois de fazer parte do elenco de shows das boates gays de São Paulo, ingressa, em 2003, na companhia de teatro Os Satyros, passando, a partir de então, a ser a “diva automática” do grupo e atriz constante nas montagens do diretor Rodolfo García Vázquez, como “A Filosofia na Alcova”, “A Vida na Praça Roosevelt”, “Transex”, “Divinas Palavras”, “Liz”, “Hipóteses para o Amor e a Verdade” e “Cabaret Stravaganza”, entre outras.
Em 2011, o cineasta Evaldo Mocarzel lançou o documentário “Cuba Libre”, primeira produção cinematográfica de Os Satyros, em que acompanha a volta de Phedra de Córdoba a Cuba, 53 anos depois de sua saída de ilha caribenha, e seu reencontro com familiares, lugares e paisagens de seu passado, durante a apresentação do espetáculo “Liz”, de seu conterrâneo, o dramaturgo Reinaldo Montero, em Havana, a convite do governo cubano. Phedra conta no documentário que se sentiu como se fosse estrangeira em sua própria terra.
Conheceu “sobrinhos, sobrinhos-netos e até sobrinhos-bisnetos”. “Eles não foram homofóbicos. Me chamaram de ‘tia Phedra’. Nós todos choramos muito.” Um dia, no camarim, recebeu a visita do ministro da Cultura de Havana. “Chegou um general velhinho querendo me ver. Nem sabia quem era. Ele falou: ‘Eu quero ver a minha rainha’. Posso querer mais do que isso? Voltei para Cuba como Diva!”.
Phedra também fez o filme “Hipóteses para o Amor e a Verdade”, transposição para o cinema da peça homônima, que fez muito sucesso em 2010 é parte do repertório da Cia. de Teatro Os Satyros.
Produção da Satyros Cinema, braço cinematográfico da trupe teatral, o longa-metragem tem roteiro de Ivam Cabral e de Rodolfo García Vázquez, que também assina a direção. No elenco, estão, além de Phedra D. Córdoba, Ivam Cabral, Cléo De Páris, Gustavo Ferreira, Luiza Gottschalk, Paulinho Faria, Robson Catalunha, Nany People, Tiago Leal, Ester Antunes, Leo Moreira Sá, Tadeu Ibarra, Ricardo Pettine e Fábio Penna.
Dividido em três partes, o filme, com duração de 80 minutos, traz a cidade de São Paulo como protagonista, já que é na metrópole que várias histórias correm paralelamente e, aos poucos, se entrecruzam. Em cena, a solidão e o destino, sempre inexorável, como antagonista.
Para a elaboração da dramaturgia, o grupo entrevistou várias pessoas do Centro paulistano. Humanas, reais e virtuais, elas vivem na megalópole buscando quebrar os muros de suas solidões, por meio do amor, real ou virtual. O filme aborda temas como suicídio, drogas e prostituição, para criar uma radiografia da região central da cidade de São Paulo, a partir de três bairros: Consolação, Luz e Paraíso.
Phedra faleceu em abriu de 2016, com 77 anos, em São Paulo, no Hospital Heliópolis, em São Paulo. Ela lutava contra um câncer de pulmão.