[Curiosidades] Precisamos falar sobre Whitewashing!

Whitewashing é uma expressão para a qual ainda não temos uma tradução precisa para o português. Ocorre quando um personagem de etnia não-branca é substituído por um intérprete caucasiano. Infelizmente é muito comum na indústria de entretenimento, mas não é exclusividade desta. A história é rica em exemplos de whitewashing, ou você acredita mesmo que os egípcios em meio ao deserto africano eram brancos? Ou, que após 500 anos de expansão e se estendendo por todo Mar Mediterrâneo, Europa, África e Ásia, todos os romanos seriam brancos?

Whitewashing não ocorre unicamente com negros, mas com todas as etnias não-caucasianas: Katara, Aang e Soka de o Último Mestre do Ar, são exemplos de que todos os personagens principais perderam as características asiáticas e apenas os vilões permaneceram como não-caucasianos. I.Y. Younioshi, de Bonequinha de luxo, é um exemplo extremamente racista e caricato de um japonês. E para intérprete de Dastan, de O Príncipe da Pérsia, foi escalado um ator de ascendência judaico-sueca no lugar de um árabe. Katniss, de Jogos Vorazes, é descrita no livro como tendo cabelos escuros e pele morena (olive skin, o tom de pele das latinas) como o pai, em oposição à pele clara e cabelos loiros da irmã e da mãe, mas teve seu teste de elenco aberto apenas para atrizes caucasianas, e acabou sendo interpretada pela Jennifer Lawrence, que apesar de muito talentosa é loira e branca.

A representação das minorias na indústria de entretenimento (e não estamos falando apenas de Hollywood) é no mínimo imoral e um grande desserviço com todas as etnias, já que estas nunca recebem uma representação apropriada e, ainda quando presentes, sofrem mudanças para parecerem mais similares a pessoas brancas. O produtor de cinema Gavin Polene, declarou à New York Magazine que atores negros – com exceção de Will Smith e Denzel Washington em filmes de ação e suspense – não atingem o rendimento de bilheteria esperado e por isso os estúdios, preocupados com essas bilheterias, não aprovam a participação destes. Em contra partida, um estudo realizado em 2012 pela Annenberg School of Communication and Jornalism diz que 44% dos ingressos de cinemas vendidos naquele ano foram comprados por negros.

Um dos blogs do Huffington Post fez uma análise dos atores negros já indicados ao Oscar. Todos esses interpretavam personagens históricos, como em 100 anos de escravidão, Ray e Malcolm X. Todos os demais personagens em que a etnia não teria peso algum para o fluxo da narrativa foram interpretados por atores brancos.

Hollywood e toda a indústria do entretenimento se valem do “não existem cores, apenas boas estórias a serem contadas” para validar o racismo e continuar a promover o whitewashing. Esse jogo só irá se inverter quando o público começar a boicotar produções que se valem desse. A imprensa americana aponta o whitewashing ocorrido na versão moderna de Peter Pan, de Joe Wright, como uma das razões do maior fracasso da bilheteria do ano. No filme, a personagem Tigrinha, que é filha do cacique da tribo indígena que habita a Terra do Nunca e, originalmente no livro, descrita como uma nativa americana, foi interpretada pela atriz caucasiana Rooney Mara. Mesmo bombardeada com críticas e uma petição criada pedindo a substituição da atriz à Warner Bros, a resposta foi que apesar de uma exaustiva procura por uma atriz nativa-americana, ou negra, ou de outra minoria, a melhor opção dentre essas foi a atriz branca.

Veja filmes nos quais atores e atrizes brancos interpretam outras etnias

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Em ‘Ghost in the Shell’, longa inspirado em mangá homônimo cuja estreia está prevista para março de 2017, Scarlett Johansson interpretará a protagonista, Major Motoko Kusanagiu. Bom, basta ligar os pontos: anime, cultura nipônica, Scarlet Johansson… Nem precisa pensar muito para perceber que uma estrela que não é asiática foi escolhida para interpretar uma personagem japonesa.

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Em ‘Príncipe da Pérsia’, Jake Gyllenhaal interpreta Dastan, o príncipe da Pérsia. Basta dizer que um ator estadunidense foi o protagonista de um filme cuja história se passa no território onde está localizado o Irã.

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O longa ‘Sob o Mesmo Céu’, Emma Stone interpreta a piloto da Força Aérea Allison Ng, que, basicamente é descendente de chineses e da população nativa do Havaí. Sim, isso mesmo: Emma Stone interpretando uma personagem meio asiática, meio havaiana. image

‘Deuses do Egito’ é hors concours, pois boa parte do elenco é estadunidense ou eurocêntrica, enquanto o filme se passa no… Egito. Para não falar de boa parte dos atores, vamos analisar dois casos: Gerard Butler (esquerda), que é escocês, interpreta o deus da escuridão Set. Para completar, Horus é interpretado pelo dinamarquês Nikolaj Coster-Waldau (direita).

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Christian Bale interpreta Moisés no longa ‘Êxodo: Deuses e Reis’, de Ridley Scott. Basta dizer que o longa é inspirado na história de Moisés, cuja missão é levar os hebreus ao Egito – o que inclui atravessar Mar Vermelho. Vale lembrar que Bale nasceu no País de Gales. Ou seja: não tem traços de quem é natural da região onde o filme foi ambientado.

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A história de ‘Sangue de Bárbaros’, de 1956, retratava a batalha de um líder mongol contra uma tribo rival. Até aí, tudo bem. Mas preste atenção no fato a seguir: esse líder mongol foi interpretado por John Wayne.

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O clássico ‘Bonequinha de Luxo’, com Audrey Hepburn, tinha no núcleo secundário o descendente asiático Mr. Yunioshi. O personagem foi interpretado por Mickey Rooney. E o teor dele era um tratado sobre estereótipos e clichês sobre japoneses.

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Em ‘Amor, Sublime Amor’, Natalie Wood interpretava Maria, uma personagem porto-riquenha. Ah, sim: a atriz não tinha relação com o país.

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Marlon Brando um dos protagonistas do longa ‘Casa de Chá no Luar de Agosto’, de 1956. Até aí, tudo bem e nada mais justo. Contudo, seu personagem, Sakini, é o intérprete de capitão Fisby (Glenn Ford) durante uma missão em Okinawa, no Japão.

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A história de ‘Aventura Sangrenta’ se passa no início do século XIX. O tenente William Clark (Charlton Heston) apaixona-se pela personagem Sacajawea, interpretada por Donna Reed. Só tem um grande problema: Sacajawea é uma índia.

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Em ‘Quebrando a Banca’, Jim Sturgess interpreta Ben Campbell, um jovem estudante do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) que entra em um esquema de apostas em cassinos nos quais eles, em resumo, quebravam a banca usando teorias matemáticas. A história do longa foi inspirada na trajetória de Jeffrey Ma, cuja ascendência é chinesa. Bom, aqui temos um caso duplo de whitewashing: tanto na escolha do ator (Jim Sturgess) para interpretar o personagem que era de origem asiática, como na concepção do personagem, cuja etnia foi alterada para parecer ocidental – vale lembrar que Sturgess é britânico.

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‘O Último Mestre do Ar’ é inspirado no anime ‘Avatar: The Last Airbender’, inspirado em elementos asiáticos, em especial sul-coreanos e japoneses. Pois bem, o longa, dirigido por M. Knight Shyamalan, tem como protagonistas Nicola Peltz, Jackson Rathbone e Noah Ringer. Claro, eles não são orientais.

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‘A Casa dos Espíritos’, inspirado no livro homônimo escrito por Isabel Allende, é ambientado no Chile e a história se desenvolve até o golpe militar que tirou o presidente Salvador Allende do poder, em 1973. Pois bem, os protagonistas foram Jeremy Irons e Meryl Streep.

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No longa ‘Uma Mente Brilhante’, sobre a vida do gênio da matemática John Nash, sua esposa, Alicia, é natural de El Salvador. Contudo, ela foi interpretada por Jennifer Connelly. 

Os dez mandamentos

Este problema também está presente em Os Dez Mandamentos: Apesar da história se passar no continente Africano, os protagonista são todos brancos. Registros científicos e arqueológicos sobre o Egito já revelaram que sua população era, em sua grande maioria, negra.

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Juliano Bonfim – São Paulo
Ator, diretor, professor de teatro e Psicólogo.
Começou no teatro em 1998, como uma forma de extravasar tudo o que era obrigado a calar. Criou a página Atores da Depressão em 2012. Sonha em ver algum texto de sua autoria em cena.
Facebook / Instagram:  @jbonfs

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